Nada a comemorar no mês da consciência negra, que muitos relegam ao esquecimento proposital, tanto autoridades, quanto cidadãos de classes mais favorecidas, muito mais envolvidos com noticiários duvidosos e manipuladores, além de gastarem o dinheiro (do rentismo explorador) de que supõe deixá-los superior às outras classes. Triste e perversa miopia nacional, que cimenta o país num esfacelamento irreparável em vários aspectos. Essa parcela privilegiada da população quer muito além do necessário e o resto dos brasileiros que se virem com a ninharia que conseguem.
Quem se preocupa com a redução da desigualdade social?
O que se vê claramente e o que se tem de fato, é uma despropositada ignorância sobre as necessidades reais de mudança do panorama, que não se dá a devida importância, um emaranhado cada vez mais crescente de injustiças sociais em quase todos os âmbitos da sociedade, que penaliza de maneira cruel uma parte da população mais ativa e representativa do povo brasileiro.
As demandas da população negra são tão invisibilizados e "naturalizados", que uma parte da própria comunidade negra nem pensa sobre isso com o teor da gravidade que o quadro apresenta, devido a fatores externos que vão além de sua consciência. A "consciência" negra no Brasil branco é medíocre. Não sabemos o suficiente, não nos importamos o suficiente, nem também temos empatia suficiente.
Passam ao largo das preocupações das autoridades uma agenda (urgente ) de necessidades a sanar da comunidade negra. Assim é, tendo em vista que o racismo é rechaçado nas vias burocráticas - cínicas e hipócritas - imersas e institucionalizadas no território brasileiro, que, no entanto é pátria de todos, negros e brancos.
Não aceitamos que fomos escravistas durante 300 anos, 300 anos! Não são três anos, nem trinta anos. E não enfrentamos abertamente que existem resquícios degradantes do escravismo ainda em nossos dias. Direitos humanos no país estão em vias de tornarem-se piada. Ao fim e ao cabo, quem se preocupa com a redução da desigualdade social?
Passam ao largo das preocupações das autoridades uma agenda (urgente ) de necessidades a sanar da comunidade negra. Assim é, tendo em vista que o racismo é rechaçado nas vias burocráticas - cínicas e hipócritas - imersas e institucionalizadas no território brasileiro, que, no entanto é pátria de todos, negros e brancos.
Não aceitamos que fomos escravistas durante 300 anos, 300 anos! Não são três anos, nem trinta anos. E não enfrentamos abertamente que existem resquícios degradantes do escravismo ainda em nossos dias. Direitos humanos no país estão em vias de tornarem-se piada. Ao fim e ao cabo, quem se preocupa com a redução da desigualdade social?
Problemas como exclusão no mercado de trabalho, mortandade de população negra, especialmente homens negros, escolarização deficiente no ensino público de má qualidade; racismo institucional, racismo estrutural, preconceito naturalizado e enraizado no cotidiano; discriminação nos salários pagos a negros (sempre menores); poucas políticas públicas dirigidas à comunidade; encarceramento em massa da população negra; ensino superior com pouca representatividade negra; a objetificação do corpo negro; dentre outros gravíssimos quadros conjunturais e estruturais existentes no Brasil.
Até Quando Suportar as Dezenas de Desigualdades e Injustiças?
Exemplos de estatísticas vergonhosas, absurdas e horrendas como o "mapa da fome"(tendo em vista estarmos no século XXI com tantos "avanços" em variadas áreas) do qual havíamos saído recentemente; a mortalidade infantil e a extrema pobreza são temas desumanos que incidem sobre a população negra com mais densidade. Temos portanto, a estupidez e o descaso com a desigualdade social, historicamente perpetuada, vale ressaltar.
As conquistas para minimizar estas situações são tímidas e pouco afeta a consciência dos gestores de mecanismos burocráticos/outros que deveriam estar à frente das tomadas de decisão e ação efetivas a fim de reduzir os números negativos. Mas a maior parte dessas gestões são controladas por uma elite branca - burocrática, financeira e social - que pouco se importa com isso. Há engessamento e desinteresse colossal nesse sentido.
A gravidade do contexto se move também - obviamente e talvez até com maior intensidade - aos mais frágeis, as crianças, que são ainda mais penalizadas, tendo em vista a fragilidade em relação aos adultos, que deveriam ser seus protetores e garantirem o bem estar e a segurança física, social e emocional dos pequenos (segundo a lei, menores de 0 a 12 anos).
Mas as falhas, os erros, a irresponsabilidade, o descompromisso em honrar a dignidade humana das crianças, especialmente das crianças negras, tem sido crescente. As políticas públicas destinadas às crianças no Brasil vão quase a zero. Pode-se argumentar erros semelhantes se nos referirmos aos idosos brasileiros, e idosos brasileiros negros.
O menosprezo em providenciar políticas públicas que ofereçam creches adequadas, escolas bem equipadas, programas de saúde pública de boa qualidade, áreas de lazer estruturadas e acessíveis (praticamente não há parques, praças e quadras de esportes nas cidades), dentre outras tantas mazelas no que diz respeito às crianças brasileiras de classes média baixa, filhos de assalariados de uma maneira em geral, quanto mais as dentro do espectro da pobreza e extrema pobreza.
E a Mulher Negra? Onde Estão os Direitos da Mulher Negra Brasileira?
Em mês de campanha da consciência negra, as manchetes na mídia impressa são irrisórias, nos meios digitais há um pouco mais conteúdos, sem efetivamente serem absorvidos e notados com o discernimento que deveriam provocar. O interesse pelas causas negras ainda é restrito, só grandes celebridades televisas chamam a atenção, eventualmente.
Em relação às mulheres negras este contexto é potencializado, pois dificilmente há destaques para mulheres negras e seus êxitos diários em meio a um universo nacional notadamente branco, machista, racista e misógino.
Em relação às mulheres negras este contexto é potencializado, pois dificilmente há destaques para mulheres negras e seus êxitos diários em meio a um universo nacional notadamente branco, machista, racista e misógino.
Se, só pelo fato de ser mulher já existe uma rede colossal de dificuldades adversas para lidar, ser mulher e negra potencializa este estado. Há muito o que se discutir, problematizar e buscar sistematicamente as soluções - iniciais, parciais ou totais - para as dezenas de questões e desafios com os quais a mulher negra padece, a partir do momento em que nasce até sua vida de adulta plena.
No quadro atual pode-se citar desde o acesso ao mercado de trabalho igualitário - vagas e salários - pelo menos com as mulheres brancas (porque a ambas é desigual em relação aos homens brancos); ao feminicídio da mulher negra, que cresce; abertura dos espaços de poder com representação negra; programas de saúde feminina; acesso equitativo às instituições de ensino, dentre outras adversidades e cenários limítrofes.
As questões do negro brasileiro são condenadas a serem questões ínfimas, sem valor. E isso é historicamente construído desde a famigerada falácia da abolição da escravatura. O panorama de reparações das dezenas de injustiças cometidas ao longo dos anos é enorme e insano, despertam pouca relevância até os dias atuais. A partir do exposto, a luta da militância e todos os progressistas e humanistas, tem de ser incessante senão será sempre relegada à invisibilidade, à estupidez e descaso da desigualdade social em terras brasileiras.