terça-feira, 21 de novembro de 2017

Gordofobia - O Que é Isso? Somos gordofóbicos ou não?

Somos gordofóbicos, ou seja, aqueles que praticam gordofobia. 

Sim , nós já insultamos, sim, ofendemos, sim, fomos abusivos, sim, não toleramos, sim não compreendemos, sim, também repudiamos, sim, não  apoiamos, sim, nos intrometemos. Sim, temos que fazer um mea culpa, porque sim, falhamos. apelidamos, apontamos o dedo, cochichamos, fofocamos, falamos mal, criticamos, ridicularizamos, por fim, julgamos. 

Quem não? Atire a primeira pedra. Um policiamento cruel e desmesurado. Mas hoje vem Iza, abalar e sacudir as estruturas que nós criamos e diz, ou melhor,  mostra e dá um tapa em nossa cara: "O meu corpo te incomoda, sinto muito o azar é seu!"

A gordofobia como prática de preconceito está sob a mira de feministas, defensores dos direitos humanos e qualquer pessoa que respeita a outra no direito que ela tem de ser o que quiser.


O filósofo Michel Foucault nos alertou em sua obra a questão do exercício do Poder sobre o corpo ("instituições" com certo poder que controlariam nosso corpo). A mídia, o governo, a escola, a família, a medicina, os desportos, a indústria farmacêutica,  enfim, em todas as instâncias do cotidiano - delineiam os aspectos, as concepções, ao fim e ao cabo, as interpretações sobre o corpo. 

Decidem sobre um "padrão" (no caso analisado, as nuances dentro da gordofobbia) e temos que nos encaixar como quase uma lei. E também há o lucro, o que se ganha com a perseguição do outro com o pretexto de um ideal de beleza (do corpo).

Academias, indústrias de uma maneira em geral, com venda de roupas, revistas, remédios, dvd´s, etc, pressionam, pressionam, apertam o cerco do estereótipo: seja magro, seja fitness, seja slim, esteja no "padrão", não saia da linha, não coma isto, não faça aquilo.
                                      
O "gordo", a "baleia", o "elefante"

Somos Gordofóbicos?

A desconstrução do modelo padrão de beleza ideal tem alcançado gradativamente alguma visibilidade. Embora haja muito chão para percorrer ainda, pontuais atitudes, pequenos espaços foram conquistados aqui e ali. 

Seja lá qual apelido desrespeitoso e humilhante já lançamos, verbalmente ou mentalmente, vem sido catapultado para o lixo da humanidade. E como há imundícies vis, que lançamos como flechas ardilosas, todos os dias para nossos semelhantes, como gordofóbicos que somos.

O termo "gordofobia" é tão infeliz quanto todos os outros. Mas, como temos mania de nomear impulsivamente sem refletir sobre o que há por trás das palavras, foi a ideia estapafúrdia que tivemos. Vá entender o ser humano.

                               
Somos Gordofóbicos?

Um dos personagens do cinema mudo mais divertido foi o "gordo" da dupla "O Gordo e o Magro" (Stan e Laurel ), Jô Soares - gordo assumidíssimo, encantou os brasileiros durante dezenas de anos como comediante e apresentador de programas. 

Nós gostamos de ambos por serem quem são, engraçados, divertidos e certamente não lembramos do quanto são "gordos" enquanto rimos. A gordofobia não passa por nossa cabeça quando interagimos com o outro sem defesas ou pré-conceitos.

Quando agimos naturalmente, libertos da ação do julgamento e acolhemos o outro pelo que ele é, pessoa humana, tal e tal, não sentimos desconforto com sua presença, tampouco repulsa, nem percebemos os padrões impostos.

SomosGordofóbicos?

 "Ah! E a questão da saúde!"??

Sim, com certeza preocupar-se com a vitalidade do nosso corpo é vital (com o perdão da redundância) mas não seríamos todos, gordos ou magros, os de fora ou de dentro do "padrão ideal" responsáveis pelos cuidados com o desempenho físico, com a saúde? 


Somos Gordofóbicos?Nestas imagens, todas as duas garotas praticam maus hábitos alimentares. Não é salutar nem para uma, nem para a outra ingerir tantas calorias, gorduras e açúcares de uma só vez. As controvérsias tem crescido na área médica quanto a este tema. 

Não é 100% garantido que magros estejam bem e gordos, ah!... coitados! Não, doença e males corporais acontecem para uns e para outros, ambos devem se cuidar em igual medida.            
Somos Gordofóbicos
É recomendado analisar e pesquisar o histórico médico e o perfil do paciente a fundo para só depois tirar conclusões sobre o quanto este 'gordo" ou quele "magro" tem a robustez adequada para ter qualidade de vida.
Pré julgamento não vai assegurar esta intenção. 

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Padrões, padrões impostos, quem é mais bonita do que eu?

Somos Gordofóbicos?O panorama da "gordofobia" que vemos, incorre no erro, tanto do julgamento precipitado,  quanto na primordial questão de que, ora, cada um decide como quer viver e não somos nós quem determinaremos como o outro deve agir com seu corpo. 
Se eu quero (aceito) meu corpo com tal peso e aparência, problema meu (as consequências sobre tal decisão são minhas). Eu tenho poder sobre meu corpo, não você (seja indivíduo, seja instituição).

Um indivíduo "gordo" é empoderado do seu corpo?

Empoderar-se é a ação de apropriar-se de si mesmo. E, para nós, gordofóbicos de plantão como um todo, que cresceram e também apelidaram os magros ("você é magra de ruim"), chegam as "gordas de boa".

As "gordas de boa" tomam posse de suas próprias vidas, de suas concepções como mulher no mundo, constroem suas trajetórias a despeito de todo preconceito, discriminação e desqualificação em massa que existe no seio da sociedade - a tal gordofobia

Buscam e encontram primeiro, aceitação de si mesmas, depois aceitam-se para o outro (e não se preocupam nem um pouco com a opinião deste), se auto compreendem com valor do jeito que são. Traçam daí a construção do mundo sob a perspectiva de si, não dos outros, não baseada no que a coletividade determina. Somos mais que nossa aparência física.

                                       

Tem lugar para o gordo no mundo?

A demanda crescente de auto-afirmação tem incorporado algumas mudanças, talvez ainda muito pontuais, mas que já causam certa repercussão. Na área do entretenimento vimos há poucos anos o filme "Preciosa", que narra as desventuras sofridas pela personagem principal que é obesa, negra e pobre.

A internet tem catapultado o protagonismo de mulheres (e homens também) que criam canais de vídeos, sites e blogs, redes sociais em geral, para discorrer sobre seu empoderamento.

Somos Gordofóicos?Em algumas cidades já é realizado concursos da mais bela "gordinha", marcas de roupas - inclusive gigantes do varejo lojista - já  têm em seus catálogos opções números de vestimentas acima do 46, atrizes e apresentadores de tevê conseguem papeis e oportunidades de trabalho, dentre outras incipientes vitórias.
No entanto, inúmeras barreiras ainda precisam ser vencidas. Por trás da segurança e visibilidade de hoje, houve muito sofrimento antes, e solidão, depressão, bullying, abuso familiar, etc, ontem, antes.     

             Somos Gordofóbicos?

 Lei Maria da Penha e a Onu

A fim de assegurar a integridade física, psicológica, mental das mulheres vítimas de violência (os muitos tipos que existem - para tratar em outro artigo), foi criada a Lei Maria da Penha. 

Esta lei estabelece padrões rigorosos para coibir os abusos sofridos e punir os agressores que  humilham, machucam, ofendem, ridicularizam, oprimem, as mulheres de uma maneira ampla, inclusive as "gordas" que, exatamente pelas características dessa alcunha, são abusadas.

A ONU Mulheres e o Pacto Global lançou um programa Princípios de Empoderamento das Mulheres que segundo a nota da divulgação: "São um conjunto de considerações que ajudam a comunidade empresarial a incorporarem seus negócios valores e práticas que visem a equidade de gênero e o empoderamento das mulheres." 

Somos Gordofóbicos?

Por que meu tamanho incomoda tanto?

Os corpos das pessoas não são um atestado de qualidade de vida segundo seus tamanhos. Há pessoas saudáveis "gordas" e pessoas doentes magras, como existe o contrário, A diversidade de diferentes corpos no mundo já nos impõe uma abertura à diferença, a olhar as pessoas, não os seus corpos.

Da intolerância  surge uma quantidade inumerável de bulímicos, anoréxicos, depressivos, suicidas, infelizes enfim. O convívio social fica inviável se não nos dispormos à compreensão da variedade corporal. Gordofobia é sinônimo de intolerância a esta variedade.

Somos Gordofóbicos?
Eu não sou meus dedos mínimos tortos, ele não é a cicatriz do acidente, ela não é a cor de sua ´pele, eles não são a surdez ou a cegueira, não sou minha ansiedade,etc. Nada disso nos representa ou diz quem somos como seres humanos.

Esquecemos rapidamente o que reside na seletividade de corpos como "bons ou maus", por exemplo, daquele juiz e tirano nazista que julgou judeus e outros tantos "tipos" de pessoas como se não tivessem qualidades suficientes para viver.

Pode até não ser ofensivo usar a palavra gordo ou gorda, dizem que depende do contexto e do "jeito de falar", mas se ele ou ela têm um nome, porque não chamar assim?
                                                 

Você poderá se interessar também por outro tema feminino: http://sociologiahojemdia.blogspot.com/2018/03/perdemos-marilelle-e-estamos.html                             

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